sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

PG - O DEUS DO RICO E O DEUS DO POBRE


O século que estamos vivendo está desvendando cada vez mais a realidade do desenvolvimento humano no planeta. A evolução em diversos setores mundiais é óbvia e inquestionável. Também o desenvolvimento da riqueza, algo inimaginável. Muitos países não sabem o que fazer com tanto dinheiro que lhes sobra. Sobra, que em alguns casos, acaba se tornando um problema. Parece-me deluso, talvez, alguns poderiam me acusar de demandista, entretanto, no século da evolução e de todo desenvolvimento que acompanhamos, chegou-se a ponto de um homem gastar milhões de dólares para ter o prazer de subir à órbita da terra; outro gastou centenas de milhares para construir uma casa de quase oito mil metros quadrados, em mármore importado, no deserto, somente para receber seus visitantes; outros gastam o equivalente a duzentos dólares mensais com veterinários para cuidados com cães e gatos; e, para não ser prolixo, assisti ultimamente na tv a história de um homem que compra cinqüenta quilos de carne diariamente para sustentar uma onça que tem em casa. Essas histórias de gastos fabulosos acompanhamos diariamente, e até aprovamos com nosso silêncio.
O silêncio também faz parte daqueles que vivem nas margens das nossas cidades. Olhando bem à minha frente, tenho uma grande foto (do famoso fotógrafo Carter) que mandei ampliar, onde em primeiro plano, me apresenta duas crianças esqueléticas e famintas de um campo de refugiados do Sudão. Elas estão, juntamente com outras ao fundo, aguardando uma ração que vem dos países ricos, de onde as pessoas tem tanto dinheiro sobrando, que gastam como citei acima. Uma dessas crianças tem seus olhos embaçados e avermelhados, olhando ao horizonte. Vejo em seu olhar a desesperança, a miséria, um futuro curto; vejo nessa criança a dor, tristeza; vejo seus ossos e até posso contá-los, vejo sua agonia, vejo nela a morte da fome.
Creio que se essas crianças tivessem um gato, elas o comeriam, se tivessem um cão, ele teria o mesmo destino. Mas elas não querem gatos, não querem cães, muito menos mansões ou mesmo conhecerem a terra por cima, pois o que dela conhecem, daqui de baixo, de uma terra rica por dentro e bela por fora, é a fome. Essas crianças querem comida! Querem comer algo, e enquanto muitos dão de comer a seus gatos, essas crianças até desejariam gatos para comerem! Isso, isso é a fome!
Em um capítulo do livro “A Missão da Igreja”, no cap. “Um Jumentinho na Avenida”, de Marcos Adoniram Monteiro, na pg 171, ele relata o diálogo de um fiel ao seu pastor: “Um açougueiro foi entregar um quilo de carne, na casa de um deputado, e encontrou uma mesa no café da manhã com tudo o que o senhor podia imaginar. Então o açougueiro disse: mesa farta doutor! E o deputado respondeu: graças a Deus! e o outro respondeu: é, doutor, o Deus do rico não é o mesmo Deus do pobre. Na minha casa, quando tem pão, falta manteiga; quando tem manteiga, falta pão. Por isso, doutor, o Deus do rico não pode ser o Deus do pobre.”
Há vários países ricos e um número maior ainda de países miseráveis. Há famílias ricas, e um número a perder de vista de outras, ao seu lado, famintas; e há muita, mas muita riqueza mundial. Todavia, ela está nas mãos de um grupo muito pequeno de pessoas. Esses abastados países, e as riquezas pessoais, vivem sob o enigmático poder da riqueza. “Esse poder foi dado por Deus!”; é o que a grande maioria deles, quase sempre cristãos, até mesmo protestantes, dizem. Não duvido, posso até concordar. Mas quanto ao uso, ou para melhor dizer, ao abuso do seu poder e de sua riqueza, isso não, não foi dado por Deus, mas permitido que “andem na teimosia de seus corações, seguindo seus próprios conselhos”(Sl 81.12). A riqueza é uma bênção para um país, para uma família, para uma igreja. Todavia, a mesma riqueza pode se tornar uma maldição tão grande ao ponto de matar outros de fome, enquanto se alimenta seus desejos humanos irracionais.
O Deus dos ricos é o mesmo Deus dos pobres. É assim que a Bíblia O apresenta. A riqueza foi dada a uns para que a seu uso, coubesse a tarefa de equilibrar, num mesmo nível, aqueles que estão abaixo. Ser rico é ter uma tarefa, a tarefa de desfazer a pobreza, de matar a fome. O Deus da riqueza ama os pobres, é o Deus dos pobres. Infelizmente não vivemos esse cristianismo mundialmente. Muitos não vivem esse cristianismo à sua volta.
Podemos fazer muitas obras, muitos gestos ou ações de combate à pobreza a nossa volta. Mas enquanto o silêncio predominar, o conformismo continuará a matar de fome inocentes crianças, e a manter simples pessoas humanas distante da realidade de vida que Cristo veio trazer. Seremos sempre cobeligerantes nas estatísticas de fome e miséria, quando encolhermos nossas mãos de lutar por uma vida mais humana àqueles que não a têm. Nosso silêncio e nossa inércia contaminará, a cada dia, centenas de milhares de pessoas com a doença da fome. E, quando olharmos, bem ao fundo, nos olhos embaçados e avermelhados de alguma criança faminta, veremos ali nossos nomes, e uma insígnia: “o Deus do rico não é o mesmo Deus do pobre!”.
Rev Pevidor

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