domingo, 2 de novembro de 2008

PG - A IGREJA E A CIDADE


“E percorria Jesus todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades.” (Mt 9:35).

Desde que me entendo por gente vejo problemas sérios nas cidades brasileiras. Há muito tempo atrás pensei que os problemas do menor carente acabariam. Inventaram o ‘criança esperança’. Pensei: que bom! não veremos mais crianças esmolando nos semáforos, nas ruas, cheirando cola nas esquinas e se tornando bandidos em potencial. Todavia, a minha decepção foi maior do que a minha alegria, ao constatar que, após vários anos de campanha, milhões e milhões de reais arrecadados, elas continuam nas ruas, nos semáforos, na cola, na bandidagem, nos guetos da cidade.

A igreja está inserida dentro da cidade. Usa a luz da cidade, a água, esgoto, telefone, ruas, prefeitura, comércio e toda a estrutura que uma cidade ‘urbana’ pode oferecer para seus habitantes. Mas esse desfrute não fica somente nas coisas boas; o preço desse usufruir da cidade é caro, pois também a igreja está no meio da fome, às voltas das favelas, das filas intermináveis nos hospitais, da prostituição infantil, do comércio de drogas, da segregação racial e dos guetos impostos pela ’alta’ sociedade. Mas, a pergunta é: a cidade é inimiga da igreja? Muitos pensam que sim; eles dizem: “o mundo está perdido”. Ainda pergunto: a cidade é inimiga da igreja, ou a igreja deve se aliar, ser cobeligerante da cidade para a promoção social e por uma cidade melhor e mais justa? O escritor Clóvis Pinto de Castro escreve dizendo que “ há muitas pessoas que se dizem cristãs, mas que fazem uma distinção entre o sagrado (igreja) e o profano (cidade) colocam-nas como duas realidades distintas e irreconciliáveis. É uma visão dualista da realidade. Dividem-na em parte espiritual e em parte material”.

A igreja está na cidade com uma finalidade específica, pois ela recebeu poder, ao descer sobre ela o Espírito Santo, para ser testemunha de dos atos e palavras de Jesus, tanto no bairro da igreja, como em toda a cidade e município, e até aos confins da terra. Dessa forma percebemos que a cidade não é inimiga da igreja. A igreja não consegue viver sem a cidade. Ambas fazem parte do mesmo contexto, das mesmas bem aventuranças, dos mesmos problemas.

A cidade precisa da igreja em todo o seu contexto. Ela espera ser influenciada pela santidade da igreja. A cidade espera uma atitude da igreja, ou até mesmo uma resposta da igreja nela inserida, por um mundo melhor, mais justo e habitável. Todavia, pelo fato da igreja se achar mais santa que a cidade, por se ver salva, incontaminada, e num patamar superior, ela muitas vezes olha de cima para os problemas da sua cidade, e não consegue se misturar para tempera-la ou ilumina-la. Em Mt 5.13-14 encontramos Jesus dizendo que a igreja é o sal e a luz da cidade. Mas, o sal não tempera se não for misturado à comida; a luz não ilumina se estiver escondida ou desligada. Assim, como a igreja poderá transformar o mundo se se fecha dentro de quatro paredes, e não se envolve com a cidade e seus problemas?

A cidade necessita da igreja tão quanto a igreja precisa da cidade. A cidade espera a salvação que vem ‘da igreja’, mas não o seu julgamento. Tantos necessitados, excluídos, discriminados, injustiçados, pobres e mal amados olham para a igreja, como o coxo (At 3.1-11) da porta formosa olhou para Pedro e João, esperando receber dela alguma coisa de bem. Pedro e João disseram: “olha para nós”. A igreja somente poderá dizer à sua cidade: “olha para nós”, quando ela estiver envolvida, unindo suas forças com a sua cidade, no sentido de transformar sua cidade num núcleo de vida, amor, compaixão e cumplicidade. Quando isso acontecer, as pessoas da cidade se encherão de admiração e assombro pelo que a igreja tem a oferecer. Quando a igreja deixar de investir em Sinagogas, para investir em vidas, aí sim ela, a igreja, terá autoridade de Deus para dizer: “Não possuo nem prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!” (At 3.6).
Rev Alexandre Pevidor

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